sexta-feira, 4 de setembro de 2009

E SE...

... NÃO HOUVESSE ESTAÇÕES?

Hitler venceria a batalha de Stalingrado, durante a Segunda Guerra Mundial, e a Alemanha dominaria a Rússia. A luta na Rússia teria sido rápida, conforme o planejado. Cerca de 150 anos antes do líder nazista, Napoleão não teria sofrido, no mesmo local, sua maior derrota. O destino desses grandes personagens da história teria sido outro se não fosse por um importante vilão: o inverno russo. Hitler perdeu cerca de 600 mil homens por causa do frio. Napoleão, mais de 300 mil. As baixas marcaram a derrota dos dois. Mas tudo teria sido diferente se não houvesse as quatro estações do ano tal qual conhecemos hoje.

E seria possível não haver as estações? Sim. Na verdade, a atual distribuição das estações é mantida por um acaso astronômico: o eixo de rotação da Terra é levemente inclinado em relação ao plano do Sol. Esse pequenino detalhe, definido há bilhões de anos, é que gera as estações. Se o eixo da Terra fosse perpendicular ao Sol, o clima seria constante em cada região do planeta. A falta de variação reforçaria os climas em cada região. Os trópicos seriam ainda mais quentes e riquíssimos em vida vegetal e animal (as horas a mais de sol favoreceriam a fotossíntese).

As regiões de clima temperado, que, no Brasil, vai de São Paulo ao Rio Grande do Sul, viveriam uma eterna primavera. E os pólos, onde só haveria um sol fraquinho o ano todo, ficariam frios e desertos. A temperatura seria mais baixa que a média atual, entre -30 0C e -40 0C, e a vida que hoje existe por lá desapareceria, ou migraria para regiões mais quentes. Os banhistas de Mar del Plata, no litoral argentino, talvez disputassem espaço na areia com pingüins e leões marinhos. No mundo animal, haveria outras mudanças. As grandes migrações, por exemplo, não existiriam. Afinal, o que faz gansos voarem por milhares de quilômetros todos os anos é o inverno e a escassez de comida e calor que ele traz.

Para nós, brasileiros, a mudança eliminaria alguns maus hábitos causados pela importação de costumes do hemisfério norte. Nossa ceia de Natal, por exemplo, deveria ser leve, já que aqui a data coincide com o verão. Mas copiamos a ceia do norte, feita para o inverno, com carnes gordas e frutas secas. Essa defasagem desapareceria, já que regiões de mesma latitude, ao norte e ao sul, teriam clima parecido.

Os calendários também seriam diferentes e talvez o ano nem tivesse a duração atual. O ano de 365 dias foi criado pelos babilônios, um povo que viveu há 6 mil anos onde hoje fica o Iraque. Com relógios de sol, eles perceberam que a sombra dos objetos variava com a passagem dos dias, completando um ciclo a cada 365 dias. E viram que havia quatro mudanças de clima nesse período. Nasceu assim o ano das estações. Sem essa variação, a passagem do tempo poderia ser organizada de outra forma, e hoje poderíamos ter um ano mais longo ou menor.
Algumas datas religiosas teriam que ser revistas. A Páscoa cristã, que comemoramos este ano no dia 20 de abril, precisaria de outro critério para ser marcada. Embora seja uma data cristã, ela é calculada com base nas estações: acontece no primeiro domingo depois da primeira lua cheia após a entrada da primavera no hemisfério norte. Adeus, coelhinhos de chocolate.

Clima estável
Sempre frio
Sem a variação de luminosidade, os pólos seriam ainda mais frios do que hoje, e provavelmente as calotas polares seriam mais espessas e extensas. Em um clima assim, nem pingüins conseguiriam viver. Eles migrariam para regiões mais quentes, ou simplesmente seriam extintos

Eterna primavera
Nas regiões onde hoje as estações são bem marcadas, o clima ficaria estacionado no que hoje se conhece como primavera ou outono, ou seja, uma meia estação. A paisagem, que atualmente varia ao longo do ano seguindo as estações, seria permanente, como é nas regiões tropicais, onde não há tanta variação de temperatura

Calorão
Aqui os raios solares incidiriam verticalmente durante o ano todo. O deserto do Saara provavelmente seria ainda mais seco e quente. Mas o mar, coalhado de algas, seria ainda mais rico nos trópicos, sustentando boa parte da vida do planeta

A representação do globo terrestre seria diferente, sem a inclinação

Mais luz no norte
Em julho, a luz solar incide mais diretamente sobre o hemisfério norte. É verão por lá. Na Groenlândia, o gelo se derrete e a vegetação cresce. Londrinos, nova-iorquinos e berlinenses tomam sol nos parques

Verão brasileiro
Em janeiro, é o hemisfério sul que está mais exposto à luz solar. É verão no Brasil, na Austrália e na África. As calotas de gelo que circundam a Antártida recuam, os pássaros migram para o sul e as praias ficam cheias

Sempre igual
Se o eixo de rotação da Terra fosse perpendicular ao Sol, cada região do planeta receberia a mesma quantidade de calor durante o ano todo. O clima de cada região seria determinado apenas pela latitude, ou seja, a distância da linha do equador.

Como é hoje:

Como seria:


Fonte: Revista Superinteressante de julho de 2003 (texto adaptado)


... A TERRA GIRASSE PARA O OUTRO LADO?

Você se lembra do filme Super-Homem, em que o herói faz a Terra girar no sentido contrário e, com isso, volta no tempo? Lembra? Pois esqueça. Isso é Hollywood. Se fôssemos levar a sério a hipótese de que a Terra girasse ao contrário, a principal mudança seria em outros tempos: o tempo frio, o tempo quente, o tempo chuvoso e todos os outros que caracterizam o clima. Sim, a rotação da Terra tem influência direta sobre as condições climáticas.

No Rio de Janeiro, em vez de biquínis teríamos casacos à beira-mar. Em Santa Catarina, em vez de golfinhos, leões-marinhos, talvez orcas. Assim seriam os cartões-postais do Brasil. Tudo isso porque a rotação da Terra tem influência direta no movimento das correntes de ar próximas ao oceano e, conseqüentemente, das correntes do oceano. E essas correntes oceânicas são responsáveis em grande parte pelo clima terrestre. São elas os principais veículos de distribuição do calor absorvido pelos trópicos. Para se ter uma idéia, as correntes de água quente liberam no Pólo Norte uma energia equivalente a 30% da energia solar que atinge a terra dos esquimós. O contrário também é verdade, ou seja, elas carregam frio polar para os trópicos, equilibrando o clima planetário.

Se a Terra girasse no sentido contrário, as correntes oceânicas também se inverteriam. "Isso teria um impacto climático decisivo", diz Ricardo de Camargo, do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (leia algumas mudanças no infográfico abaixo).

Se o mar e os ventos corressem em sentido contrário, a história humana seria outra, também. Para ficar em um exemplo: foi na crista dos ventos e das correntes oceânicas que correm da costa africana para o Brasil que Cristóvão Colombo chegou ao novo mundo. Se a corrente fosse contrária, os europeus precisariam esperar que a tecnologia naval se desenvolvesse um pouco mais para se aventurar pelo Atlântico.

Para entender o movimento de rotação da Terra é preciso voltar às origens do sistema solar. Há cerca de 5 bilhões de anos, o Sol era cercado por uma grande nuvem giratória de gás e poeira. Ao longo de milhões de anos, o material disperso nessa nuvem foi se aglomerando e formando os oito planetas vizinhos da Terra. Por isso, todos seguem o mesmo movimento da nuvem que lhes deu origem, com exceção de Vênus, Urano e Plutão, que giram em sentidos diferentes, por razões variadas. No caso de Vênus, uma das explicações é que seu eixo teria virado de cabeça para baixo sob a força de atração de outros planetas, segundo Sylvio Ferraz-Mello, professor do Departamento de Astronomia da USP. Urano os cientistas acreditam que se formou por dois planetas que se chocaram. A colisão teria dado origem ao novo movimento. Já sobre Plutão sabe-se muito pouco e não há dados disponíveis para entender a rotação anômala.

Mas não só o clima mudaria. Se a Terra girasse para o outro lado, o ano teria dois dias a mais. Isso ocorreria porque cada dia seria quase oito minutos mais curto ou seja, a Terra daria mais voltas em torno de si mesma até completar uma volta completa em torno do Sol.

O conceito do que é oriente e ocidente, ligado ao local onde o Sol nasce e se põe, também se inverteria. Pois o Sol, assim como a Lua e as estrelas, nasceriam do lado oeste (atual Ocidente) ao invés do lado leste (atual Oriente) do globo. O Japão mudaria de nome. A palavra Japão vem do chinês jih-pun ("Sol nascente", origem do sol), que é a forma abreviada de jih-pun-kuo ("país da origem do Sol"), nome pelo qual os chineses designavam seus vizinhos à direita. No novo cenário, seríamos nós os orientais.


(para ver as imagens e tamanho maior, clique sobre elas)

Fonte: Revista Superinteressante de julho de 2003 (texto adaptado)

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